Nunca entendi isso de querer pouco

Renata Fraga
3 min readOct 5, 2020

Eu nunca entendi isso de querer pouco, de ser pouco, sempre tive uma inquietude de mais.

Eu não entendia isso de parar num lugar só, de não ir atrás de tudo que eu queria, de não viver tudo o que dá. Quando criança eu sonhava tão alto que ao menos uma vez por dia eu ouvia um: “volta pra realidade”, “para de viajar”. A questão é que eu sempre gostei de viajar. Pra dentro, pra fora, pra onde eu quisesse, tanto que isso nem me incomodava.

Talvez seja essa coisa de ser livre, de querer ser tudo, de querer sentir tudo.

Eu sempre gostei de muito, nunca fui muito de metades, de as vezes, de de repente. Eu sou do time do 8 ou 80, do é então foi, não é então deu. Já tentei me encaixar no meio, mas nunca deu muito certo. Não acho nem que isso é ser intensa demais, é só querer tanto da vida que eu não vejo sentido em meia boca. É querer honrar tanto meu tempo que eu não vejo moral em desperdiçar com o que não bate. E eu juro que tentei. Me encaixar, dosar a medida, sentir menos. Mas que graça tem em rir com a mão na boca, segurar o choro, deixar pra depois?

Eu sei, talvez alguém me diga “volta pra realidade” como quando eu tinha 5 anos de idade e viajava por aí conquistando um mundo que era só meu. Eu sei que a vida tem um senso de humor as vezes bem engraçado e que não dá pra fazer só o que a gente quer, só o que a gente gosta. Mas o que tá no nosso controle, ah o que tá no nosso controle.. tem um tanto que dá pra brincar com isso aí. Tem um tanto de escolha que dá pra fazer. Um tanto de caminho que dá pra trilhar e um tanto de levantar depois de todas as vezes que a gente cair. Dói, cansa, irrita, tem dias que parece que nada desenrola. Já disse que a vida tem um ótimo senso de humor? Mas a gente pode sempre ser um pouquinho mais sarcástica que ela e mostrar pro que a gente veio.

Eu sempre amei sonhar, mas aprendi que amo bem mais transformar o que eu quero e o que eu posso em realidade. Eu sempre achei que tinha tanto pra ver que era um desperdício ficar parada. Que tinha tanto pra experimentar que eu nunca consegui me aquietar em fazer uma coisa só, cursar um curso só, escolher uma profissão só.

A gente acha que é tão mais simples ir atrás do que todo mundo fez, faz, diz, até se dar conta de que o que é nosso sempre acha um jeito de aparecer. Que a vida sempre dá um jeito de mostrar que o caminho talvez seja outro. A frustração, a inquietude, a gana por mudança vêm sempre pra te dizer alguma coisa e aquela frase que os nossos pais diziam: “você não é todo mundo” e a gente detestava talvez faça mais sentido do que a gente imaginava. E que talvez, somente talvez, mudar de direção e ir contra o fluxo seja exatamente o que a gente precisa pra encontrar o que deixou se perder por aí.

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Renata Fraga

Moradora do mundo, me descobrindo entre textos, fotografias e experiências. Eu gosto é de conexão, eu quero o que faz meu coração vibrar.